Tainã Bispo
2 min readApr 18, 2020

Cerca de um ano atrás, por uma sorte do destino, eu esbarrei na Letícia Balducci Borges. Nossos filhos estudavam juntos e eu fiquei deslumbrada com aquela cabeleira vermelha. A Le não é das redes sociais porque, para ela, a vida pulsa no corpo, no parto (ela é doula) e na balada. Eu decidi seguir essa mulher pra ver no que dava… e só dá. Por causa dela, vim parar no @movimento_atrevase. Esse mesmo aí, grito projetado no prédio. Eu cheguei no coletivo quando ela e a incrível @nicoleaun estavam começando as gravações do podcast. Hoje, somos em seis mulheres (eu, Letícia, Nicole, @alefotografiaafetiva, @taimiranda e Cleidinha) com histórias de vida totalmente diferentes. Mas, juntas, nos dedicamos a refletir sobre os feminismos e criamos ferramentas para participar dessa luta (jogo, podcast, cursos, rodas de leitura…)
Nesse período de podcast, entrevistamos várias mulheres fodas e as conversas sempre têm, como fio condutor, um livro importante para a entrevistada. A pluralidade dessas vozes desafia nossas verdades, nos provoca a tentar outros caminhos, nos convida a sermos mais verdadeiras conosco mesmas.
No podcast da Marcita, por exemplo, gravado em algum lugar de 2019, ela diz: “e se nós abríssemos as cadeias agora, o que aconteceria?” E não é que essa pergunta se coloca em tempos de corona? Perguntas até então inaceitáveis, que soavam indecorosas e infames, abusivas e irresponsáveis, vem à tona com força. “E se as escolas fechassem?” E elas fecharam. E se mesmo aqueles com plano de saúde tivessem que depender do SUS? Pois é.
Em outro lugar de 2019, a artista Karla Girotto perguntou: “por que continuamos vivendo essa vida de bosta que a gente criou?” E eu (me) pergunto, todos os dias: para qual normalidade, exatamente, queremos voltar? Para a vida perdida no trânsito, horas extras e comidas de mentira? É para se pensar.
Para mim, prestar atenção nessas mulheres foi transformador. Desde então, meu esfoço tem sido esse: ler e escutar pensadores mulheres, negros, trans, indígenas. Escutar as crianças. E, quando a gente escuta, a resposta vem: não é à toa que os países que melhor estão passando pela pandemia são liderados por mulheres.

Tainã Bispo

Jornalista, ghost writer e editora de livros. Fundadora da Editora Claraboia