Tainã Bispo
2 min readApr 18, 2020

31 de março de 2020. Em alguns dias, o mundo tal qual conhecíamos começou a ruir. Já estava tudo aí… as mortes, as enfermidades, a falta de saneamento básico, o fato de pessoas não terem água para lavar as mãos, as falas completamente irresponsáveis do nosso presidente lunático. Enfim, estava tudo aí para quem queria ver e ouvir.
Mas, agora, que o amanhã se dissolveu em vírus, estamos vivendo a vida na sua inteireza, num absoluto quase sufocante. Desde quando um minuto vale um minuto e uma hora vale uma hora? Minha querida amiga Flávia Opúsculo resumiu o que estamos vivendo em uma expressão linda: saímos do cronos do capital à força. E estamos tentando redescobrir os ponteiros de um relógio que está quebrado há tempos.
O Covid-19 exige respostas de um coletivo que foi engolido por esse liberalismo selvagem que opta pelo genocídio. Não há novidade nisso tampouco. O que estamos vivendo é muito diferente de Mariana? A alta cúpula da mineradora (que, claro, tinha uma diretoria de executivos brancos, quase todos homens, que falam várias línguas, tem MBA e são super cultos) sabia do risco da barragem estourar. Mas, numa planilha de excel, fizeram cálculos e esses cálculos mostraram que era mais barato deixar estourar do que salvar vidas, floresta, rio, mar e terra.
Pois é… de novo e de novo e de novo. É Mariana, é Paraisópolis, é Covid-19. Na planilha de excel que gere o mundo, a Bolsa de Valores sempre vale mais.
E agora, que a morte se tornou quase palpável no ar, a vida pulsa mais do que nunca dentro dos lares. Uma vida que exige presença no tempo e no espaço que temos, mesmo que confinados.
É a vida deparando-se com ela mesma, com sua falta de controle, com a absoluta ineficiência do mercado perante nossas necessidades mais básicas. É a vida exigindo liberdade, arte, amor e gozo num mundo cujas regras foram criadas para que 82% da riqueza gerada fique concentrada nas mão de 1% da população*.
Há grandes chances de termos contraído o covid-19 do pangolim, o animal silvestre MAIS TRAFICADO DO MUNDO**. Que ironia fina do destino, não?

Fonte:
*https://valor.globo.com/brasil/noticia/2018/01/22/em-2017-82-da-riqueza-mundial-ficaram-nas-maos-do-1-mais-rico.ghtml
** https://super.abril.com.br/ciencia/papel-do-pangolim-na-pandemia-de-covid-19-ainda-permanece-misterioso/

Tainã Bispo

Jornalista, ghost writer e editora de livros. Fundadora da Editora Claraboia