Tainã Bispo
2 min readApr 18, 2020

Sobre os ossos dos mortos. Querida Konbini. A vegetariana.

27 de janeiro de 2020. Tudo começou com uma sequência de leituras aleatórias de fim de ano: “A vegetariana”, da autora sul-coreana Han Kang (editora Todavia); “Querida konbini” , da japonesa Sayaka Murata (editora Estação Liberdade); finalizando com “Sobre os ossos dos mortos”, da polonesa Olga Tokarczuk (editora Todavia) que, inclusive, foi a ganhadora do prêmio Nobel de Literatura do ano passado. São livros com histórias muito diferentes entre si, mas com algumas particularidades interessantes. Não só porque são escritos por mulheres, mas também porque as protagonistas são mulheres. E são mulheres estranhas, fora de qualquer padrão “aceitável”, cuja relação com o corpo — seja o próprio ou o dos outros — é considerada bizarra para qualquer olhar convencional. São corpos que não querem satisfazer um homem. São corpos que não querem engravidar. São corpos que causam estranhamento pelo simples motivo de existirem fora dessas regras caretas, chatas e opressoras. Mesmo em três sociedades tão distintas, é curioso como o mal estar causado pelo capitalismo enreda e maltrata tantas narrativas, não importa em qual lugar do mundo estejamos e, principalmente, se formos mulheres. Ao terminar a leitura dos três livros, fiquei surpresa em entender que esse estranhamento que as três trazem — Yeonghye, Keiko e Janina — é outra coisa. É feito da lucidez para enxergar nossa existência como potência de criação, cuidado e empatia. É audácia de incomodar. É a coragem de dizer não. É a literatura com toda a sua força de nos impregnar de outras narrativas e criar magia no absurdo da vida.

Tainã Bispo

Jornalista, ghost writer e editora de livros. Fundadora da Editora Claraboia